Nevoeiro | Episódio 6 | Temporada 1

Já na segunda metade dessa primeira temporada de The Mist, fica fácil enxergar a intenção de Christian Thorpe na forma como ele conduz sua narrativa. Baseado no que vimos ao longo desses seis episódios, é seguro dizer que o foco se encontra não nos monstros no nevoeiro em si e sim na forma como esse estranho fenômeno afeta as pessoas da cidade. Enxergamos diversas reações, desde a formação de cultos até surtos psicóticos, sem falar, é claro, na velha sensação de desconfiança, a qual toma conta de grande parte dos personagens do seriado. De fato, não há problema algum nessa abordagem, até porque esse é um dos principais pontos levantados no próprio conto de Stephen King. O problema, em si, está na constante repetição da fórmula que vem sido mantida desde o início da temporada.
Depois de um capítulo focado exclusivamente em Kevin Cunningham, a trama novamente se divide em seus três diferentes focos, além de nos mostrar Mia em sua aventura de volta à casa. Em um deles continuamos no hospital, onde Kevin acaba caindo nas mãos de um médico tomado pela loucura, que começou a realizar experimentos com os pacientes e a névoa que tomara conta da cidade. Já no shopping, vemos Eve e Alex na mesma situação de sempre, até que a filha é trancada em um quarto, o qual é colocado em chamas logo em seguida. Ao ser salva por Jay, novamente a questão sobre ele ser ou não estuprador é colocada em pauta. Por fim, na igreja, Link fica cada vez mais preocupado com o culto criado por Nathalie e tenta convencer o padre Romanov a tomar providências mais drásticas.
Chega a ser engraçado como a mesma situação é repetida inúmeras vezes apenas com uma tintura diferente. A velha história de alguém ter de desbravar o nevoeiro aparece em The Devil You Know de duas formas diferentes: primeiro com Mia, que, inexplicavelmente, precisa retornar à sua casa, sem o menor motivo aparente, além de estar profundamente decepcionada com alguém que acabara de conhecer (!!!). Segundo, mais disfarçadamente, vemos a ameaça da neblina com o médico realizando seu experimento com Kevin, trecho o qual não transmite a menor tensão ao espectador já que somos mostrados, logo de início, que o personagem será salvo por Bryan e Adrian – obviedade essa que poderia ser amenizada com alguns necessários cortes.
O único suspense existente é se veremos, de fato, algo de novo, o que, claro, não acontece, já que a série continua martelando na mesma tecla, constatando o óbvio a cada episódio: o nevoeiro traz algo relacionado à pessoa que está dentro dele. É seguro dizer, portanto, que todo esse arco, facilmente e repentinamente resolvido, funciona como nada mais que outro filler, como os muitos que testemunhamos ao longo dessa primeira temporada. O mesmo vale para o confronto de Mia com sua mãe, mostrado apenas para justificar o fato de Kevin, Adrian e Bryan terem ficado presos no hospital por mais tempo.
Felizmente, na igreja o roteiro começa a apontar que algo mais interessante irá acontecer e a morte de Link pode ser o catalisador para que Romanov saia de sua imobilidade. Fica bastante claro que um dos pontos principais do conto original será abordado aqui e esse foco pode ser a salvação dessa temporada, que anda sem sair do mesmo lugar. Frances Conroy nos entrega uma personagem dócil e, ao mesmo tempo, assustadora, com a sua fé cega claramente refletindo a disposição de muitos em nossa própria realidade.
Por fim, no shopping, continuamos a ver a repetição de sempre, com o roteiro chovendo no molhado, ao passo que continua a questionar o fato de Jay ser ou não estuprador sem chegar a ponto algum. Com isso começa a ficar mais claro que a intenção de Thorpe é resolver todas as questões levantadas mais para perto do season finale, tornando toda a jornada até lá algo extremamente entediante, em razão das poucas novidades introduzidas a cada capítulo. Quando paramos para pensar, continuamos presos no season première em termos de informação, com pouquíssimos arcos tendo sido realmente desenvolvidos ao longo desses seis episódios.
Dito isso, começo a me questionar sobre as chances de renovação de The Mist para uma segunda temporada. Claro que os executivos do canal Spike podem querer não largar o osso, mas, do jeito que a série anda, se torna cada vez mais difícil querer acompanhá-la. Mais do que nunca precisamos de algo para manter nossa atenção – infelizmente, Christian Thorpe parece não concordar, considerando a forma como cada episódio se configura como mera repetição do anterior.